Querido Nhonhô,
Há muito tempo que não trocamos correspondências. Desde nosso último e tulmutuado encontro, não tenho mais notícias enviadas de suas mãos. Estava temendo o pior quando ouvi falar de que o senhor está em localização desconhecida, protegido pelo anonimato e enfim escrevendo suas aventuras, disposto a tornar público tudo o que sabe e tem conhecimento sobre estas terras.
Faz muito bem! Já era hora de alguém revelar essa gente e este lugar como é. Espero que o senhor não floreie, não disfarce e nunca fuja de seu compromisso com a verdade, por mais que doa a qualquer um, inclusive a mim. Não depois de tantos devotados anos em busca de fatos e histórias. Não depois do que viu e das pessoas que conheceu. Não poupe ninguém.
Uma pena que nossos compromissos com o que acreditamos ainda afastam nossos destinos de um caminho comum. Fazem-me falta nossas conversas e divagações, os encontros de todas as tardes, e suas palavras de conforto toda vez que meu espírito se aflinge com as dificuldades e crueldades desta vida em sociedade. Muitas vezes pego-me desejando viver como os selvagens, livre de todas essas cobranças e exigências sociais. Um dia uma mulher ainda há de escrever sobre as aflições, dúvidas e provações que passamos, essas exigências e máscaras que torturam o espírito feminino!
Torço que aquele me confortou, dando certeza de sua vida, também lhe entregue esta mensagem de saudade. Só me resta rezar e esperar que o senhor esteja feliz e seguro, que obtenha sucesso em seu trabalho. E que logo me cheguem as mãos, não somente a obra que vossa mercê prepara, mas também mais uma de suas incríveis e deliciosas cartas.
Deus o proteja e guarde por muitos e longos anos.
da sua sempre,
D. Isabel.