1.12.11
O que uma doença é capaz de dizer sobre nós?
Ao longo dessa semana, reportagens em diversos meios de comunicação noticiaram que um dos principais grupos vulneráveis à AIDS no Brasil hoje são as garotas, entre os 13 e 18 anos. É consenso entre os especialistas que essa geração, por não ter memória ou notícia das lutas e perdas que a AIDS provocou entre os anos 80 e 90, não dá ao problema a mesma dimensão com que foi tratado até 10 anos atrás.
Isso me fez pensar na minha própria adolescência, no universo de informações disponíveis e circulantes nas revistas voltadas para esse público. Como já mencionei em outro post, revistas como a Capricho falavam abertamente sobre o assunto. Na minha escola, eram anuais as palestras sobre aborto, DSTs e AIDS, ao ponto de deixar os alunos irritados, e hoje vejo que alcançou o objetivo mesmo que pelo cansaço.
Mas de tudo que li e vi naquela época acerca da AIDS, nada me marcou mais do que o filme Filadélfia. Foi a primeira vez que eu visualizei o impacto social da doença, a força do preconceito e a pouca solidariedade a redor dos contaminados. Na prática, este ainda é um problema, os soropositivos ainda vivem em silêncio. Graças aos avanços da medicação, a saúde e qualidade de vida deles são muito melhores, mas não duvido que os nossos preconceitos e medos estejam só adormecidos, enquanto o silêncio de uns e o descaso da maioria fazem com que hoje a impressão geral seja a de que a AIDS é um problema do passado.
Por isso seria importante que o dia de hoje fosse visto não só como uma de campanha de prevenção, mas principalmente como um dia de memória, até mesmo para entendermos o quanto as epidemias revelam sobre nossa organização social. Os males vão muito além da doença, e sob a lei do medo a sociedade está sempre pronta para continuar condenando, julgando, excluindo. Talvez no fundo fosse isso que todos aqueles palestrantes e professores queriam dizer.